comida: peixe

ontem foi a primeira vez que comemos peixe desde que voltamos do acre. como tudo relacionado a viagem, tinha dado uma pausa e apenas deixado reverberar naturalmente. sonhei duas vezes com a língua hãtxa kui e algumas outras que ainda estava na aldeia.

ver os dois peixes que guilherme preparava me levou diretamente aos momentos de refeições lá na aldeia, seguido de diversos outros sentimentos. gui contou que esses peixes eram anchovas — típico do mar aqui do sul. enormes, cheios de carne. pensei que noss@s amig@s de lá admirariam e se deliciariam com enorme banquete. esses dois peixões para nós quatro? uau.

contei para luiza e gui que lá no rio jordão os peixes são pequenos, do tamanho de um palmo de mão e a maioria tem bastante espinho, o que dificultava nosso aproveitamento — principalmente para nós da cidade, sem experiência para driblar as espinhas e chupar a carne do bicho.

vibrei muito e mandei meus bons pensamentos para a aldeia. aqui na cidade realmente temos muitos privilégios que acabamos nos acostumando e não dando o devido valor. agradeço a vida. o peixe. as amizades.

gostaria muito de dividir com amig@s de lá esse banquete preparado por amig@s daqui. um sonho e irei trabalhar para um dia isso acontecer.

estudos audiovisuais pré-viagem

18.08.2021

17.08.2021

  • Cave Of Forgotten Dreams (2011) by Werner Herzog

16.08.2021

15.08.2021

14.08.2021

13.08.2021

  • A Flecha e a Farda (2020) direção Miguel Antunes Ramos.
    Documentário impressionante. Uma investigação sobre o batalhão indígena criado durante a ditadura militar brasileira. Vinte minutos em película foram encontrados num arquivo e mostram cenas de indígenas em uma exibição de forças para o governo. A única imagem do pau-de-arara vêm ironicamente deste arquivo. Essas cenas de arquivo também são usadas no doc Martírio do Vincent Carelli.
    O documentário vai em busca das pessoas envolvidas no batalhão e suas histórias. É um choque ver tamanha barbárie que a ditadura causou no Brasil. O tratamento aos povos indígenas é de envergonhar e apequenar qualquer ser humano.
    Por maior incômodo que este filme cause, é essencial.

  • Mãe Inini (2005) direção de Fernando Sallum Bussen e Amilton Sá.
    A trilha criada pelo Amazon Ensemble a partir desse doc já é bem conhecida. Filmado entre 2004-05, mostra um panorama do povo Huni Kuin naquela época. Me faz refletir sobre importância do registro contínuo de um grupo e o acompanhamento de suas mudanças.

12.08.2021

  • Manã Bai (2006) direção Zezinho Yube
    Documentário sobre o pai do diretor, Joaquim Paulo de Lima Kaxinawá e sua jornada como professor e escritor de Hatxa Kui, a língua dos Huni Kuin.

11.08.2021

10.08.2021

  • Xina Benã – Novos Tempos (2006) direção de Zezinho Yube – documentário produzido pelo Video nas Aldeias. Mostra como vivem os huni kuin através da perspectiva do pajé Agostinho Ika Muru.

  • Mata (2020) direção Fábio Nascimento e Ingrid Fadnes
    sem saber, encontrei um ótimo documentário. conta um pouco sobre a condição e impacto da monocultura de eucalipto na região sul da Bahia. Mostra o contraste entre as vidas dos Pataxós, simples camponeses e as terras pobres da monocultura. Gostei muito do caminho narrativo e das imagens desse trabalho. Eu fico muito chocado com essa visão curta/rasa/pequena do lucro rápido. É ultrapassado e as consequências estão aparecendo.

  • Por onde anda Makunaíma (2020) direção de Rodrigo Séllos
    outra boa surpresa. bom visitar o mundo indígena pela ótica da literatura e não apenas da destruição colonialista. Manuel Bandeira devorou por vários lados e isso me inspira. O doc também brinca com as possibilidades narrativas e é um belo deleite. Recomendo o filme para quem leu e assistiu o filme do Joaquim Pedro de Andrade.

  • Symbiotic Earth – How Lynn Margulis Rocked the Boat & Started a Scientific Revolution (2017)
    doc sobre Lynn Margulis, cientista pensadora expandiu o conhecimento sobre o processo de simbiose na evolução da vida, ao invés de simples competição. Também deu suporte a teoria de Gaia de James Lovelock.

09.08.2021

  • Baquete Coutinho (2019) direção de Josafá Veloso
    Eduardo Coutinho virou referência de pesquisa e estudo criativo. Esse doc é uma mistura de entrevista e cenas de diversos filmes do artista.

08.08.2021

  • Fantastic Fungi (2020) c/ apanda
    esse doc uma declaração de amor para os fungos. Para nós, leigos, é um prazer entender um pouquinho melhor as importantes funções e possibilidades que esse reino exercem. A natureza é linda e tá pronta, o filme tá cheio de belas imagens de diversos tipos de cogumelos.

07.08.2021

  • (tv) Hamilton’s Pharmacopeia S01E04 Magic Mushrooms in Mexico (c/ apanda)

06.08.2021

04.08.2021

03.08.2021

com apanda:

reassistimos o doc Kene Yuxi, e vimos mais alguns videos sobre os huni kuin:

  • Xinã Bena Beisikit Xarabu (2017)
    curta de Dedê Maia
    percebe-se a intimidade que a diretora compartilha com quem aparece a frente da camera.
    uma cena que me marcou muito foi bixku huni kuin fazendo seu canto ao final do filme. senti que há clareza em seu canto e movimento.

  • Almanaque Aquiry: A Sabedoria do povo Kaxinawá
    matéria de tv. é impressionante perceber como o jornalismo mudou em alguns anos. acredito que a apresentadora produziu a matéria com uma boa intenção, mas o tratamento com a questão indígena é tão limitado e raso que é chocante. não há informação errada, há apenas uma forma que não simpatizo. recomendo assistir, pelo estudo das possibilidades e também, e principalmente, há depoimento do grande ika muru.

  • Novo Futuro: A Huni Kuin Renaissence (2021)
    O que é a cultura dos Huni Kuin atualmente na aldeia Novo Futuro? Sinto que aqui há um ótimo exemplo do efeito looping que se refere a Manuela Carneiro da Cunha. Desejo prosperidade para todos aqueles que vivem na floresta. No video mostra-se as possibilidades que existem de realizar um trabalho autônomo de oferecer o que têm disponível.


02.08.2021

01.08.2021

  • Kene Yuxi, A Volta dos Kene (2010)
    direção de Zezinho Yube, produzido pelo Video nas Aldeias
    Uma viagem nos estudos do Kene junto com o cineasta Zezinho Yube. Dá para conhecer mais sobre os grafismos e acompanhar como funcionam diferentes comunidades Huni Kuin lá no Acre. Algo que marcou também foi os comentários que algumas pessoas fazem sobre os brancos, que vão lá filmar e somem com o material…

    sobre os kenes, como a sabedoria dos antigos realmente afeta o conhecimento atual. a importância do registro em imagem para deixar a sabedoria viva.

  • O Sonho do Pajé (2015) programa televisivo da TV Brasil, reportagem de Aline Beckstein
    com Tadeu Siã, Siã Huni Kuin, Ninawá Pai da Mata, Hushahu Yawanawá, Daniel Munduruku, Anna Dantes, Alexandre Quinet, Nadja Marin, Guilherme Meneses, Ulisses Capozzoli, Renato Soares.
    Boa introdução para adentrar numa parte do universo indígena Huni Kuin, Yawá e questões variadas, como o uso da imagem indígena na moda, o caso do jornalista e fotógrafo serem percebidos como espiões da usina de Belo Monte lá no Xingu.

  • Xinã Bena Beisikit Xarabu (2017)
    direção de Dedê Maia – curta documental sobre o Xinã Bena, o tempo novo dos Huni Kuin. Também chamado de Tempo da Cultura. O curta é um panorama com várias lideranças de diversas comunidades Huni Kuin. Contam sobre o que está acontecendo em tempos recentes. Com narração do Txai Terri, importante figura na história dos Huni Kuin e indigenismo brasileiro. Acredito que é uma das primeiras produções da produtora Saci, que fez Nokun Txai e a série das crianças.

  • Gregory Bateson, An Ecology of Mind (2010), doc dirigido por Nora Bateson
    A Els Lagrou citou Bateson num video do Selvagem e este foi meu primeiro contato com o pensamento dele.
    A constante mudança. A relatividade. O contexto…

  • Boca de Lixo (1993), dirigido pelo Eduardo Coutinho
    documentário chocante pela localização — descrito no filme como vazante, um daqueles lixões onde milhares de trabalhadores buscavam materiais para reciclar e alimentos. eu tinha lido o próprio coutinho mencionar o filme como referência de conversas verdadeiras entre seus personagens. não chegar com aquele papinho de pobre coitado ou a culpa é da sociedade e apenas dialogar. abrir espaço para contato.

31.07.2021

30.07.2021

  • História e Mito: os Povos Huni-Kuin e Guarani – Instituto de Estudos Avançados da USP – 2019
    mesa com mediação de Anna Dantes, mesa com: Dua Buse, Carlos Papá, Manuela Carneiro da Cunha, Zezinho Yube, Els Lagrou e Xadalu.

    que encontro incrível! antes de dar play, a duração me assustou. são cerca de 4 horas, porém logo que começou o susto passou e fiquei é feliz com tanta qualidade das apresentações.

    como todo material sobre o universo indígena brasileiro, é um carrosel de emoção… entre a alegria da sabedoria de existência à resistência aos absurdos políticos…

leituras

livros

  • Una Isi Kayawa, o livro da Cura — org. Agostinho Ika Muru e Alexandre Quinet – editora Dantes
  • Nixi Pae – O Espírito da Floresta, Ibã Sales Huni Kuin – 2006
  • Huni Meka, Ibã Sales Huni Kuin – 2007
  • Carta à Terra, Geneviève Azam – 2019
  • Amazônia, Ricardo Abramovay – 2020
  • Introdução a etnobotânica, Ulysses Paulino de Albuquerque – 2005
  • Outras Naturezas, Outras Culturas – Philippe Descola
  • Papo de Índio, Txai Terri Aquino
  • Regenerantes de Gaia, Fabio Scarano – 2019
  • Variações do Corpo Selvagem – Eduardo Viveiros de Castro, Fotógrafo – 2016
  • Claudia Andujar, a luta Yanomami – 2018
  • The Lost Amazon, photographs by Richard Evans Schultes – 2004
  • Ara Kuxipa, Huni Kuin e Ernesto Neto
  • João Farkas, Amazônia Ocupada

sites

teses

  • A Fluidez da Forma, Els Lagrou
  • Piedrafita

artigos

passagem

quando se compra a passagem, parece que a viagem se torna mais real.

hoje compramos para o acre.

estudos audiovisuais

O Fim e o Princípio (2006)

direção de Eduardo Coutinho.

Não tenho intimidade com a vasta gama dos filmes do Coutinho, mas me sinto pronto e animado para aprofundar em sua cinematografia. Só tinha assistido Cabra Marcado Para Morrer e Jogo de Cena.

O Fim e o Princípio é de uma poesia e maestria impressionantes. A premissa é: fazer um documentário sem planejamento prévio além da escolha da cidade, primeiras noites numa hospedaria e o contato de uma mulher que trabalha na alfabetização e realiza serviço voluntário na comunidade. O filme mostra o desenrolar dessa busca por um filme. Uma das qualidades do cinema é parecer que as coisas simplesmente acontecem — e nesse caso, o fazer cinematógrafico parece tão simples…

Não desejo nem conseguiria fazer jus ao filme em uma pequena descrição, mas fico impressionado com a maneira que os contatos e entrevistas são conduzidos. Uma tentativa de resumir o filme é: a sabedoria da experiência… dos seres humanos, do sertão, do cineasta… e acho que nossa como espectadores também. Eu não tinha capacidade de apreciar esse filme há alguns anos… o filme não é lento, mas antes eu não conseguia escutar com atenção.

(21.07.21)

Teko Haxy – Ser Imperfeita (2018)

direção Patrícia Ferreira e Sophia Pinheiro.

foi um desses filmes surpresa de festival que assisti sem saber do que se tratava e que ótima experiência! encontrei ele não lembro onde e imaginei que poderia ser algo bom para compartilhar junto de apanda, pois lí as palavras cineasta e antropóloga na descrição.
o filme mostra a relação entre duas jovens amigas, uma guarani e outra não indígena antropóloga. uma colagem de diferentes encontros em diferentes locações. acompanhamos a relação e a profundidade que aumenta a cada encontro, cada qual com suas vulnerabilidades e sensibilidades. o filme se cria nesse contato.

não encontrei link disponível por enquanto.

(19.07.2021)

Napepë (2004)

direção da nadja marin.
tava curioso com esse documentário já faz tempo. sabia da polêmica sobre o plágio escancarado que o filme do padilha fez. ainda não assisti à cópia, então não vou adentrar nisso.
é chocante o abuso do olhar colonizador, inclusive, ou principalmente, em estudos acadêmicos. justamente na área antropológica, da qual tenho tanto afeto. outros tempos, mesmo que tão recentes. é importante refletirmos e cuidarmos, a história dos yanomami é única, mas a forma colonizadora ronda a todos nós.

link para o filme no canal da diretora: https://vimeo.com/15964569

(17.07.2021)

ABC Saving the Amazon Forest (2020)

produção do canal australiano ABC sobre o absurdo desmatamento acelerado na Amazônia. alta qualidade jornalística, cheio de cenas chocantes de desmatamento, dá um certo aperto no coração ver algumas áreas totalmente destruídas pela força humana.

eu não tenho repertório sobre a amazônia, mas me choca encontrar material de tanta qualidade apenas em reportagens de outros países. ainda bem que existem… deve existir conteúdo produzido aqui, irei caçar!

link para o documentário no canal da ABC: https://www.youtube.com/watch?v=A84N89Krqro

(17.07.2021)

Bimi Shu Ykaya (2018)

direção: Siã Huni Kuin, Isaka Huni Kuin, Zezinho Yube
produção da saci filmes — produtora acreana da qual comecei a admirar pela qualidade incrível de material produzido: as séries nokun txai e o olhar vem de dentro.

documentário sobre Bimi, a primeira mulher pajé huni kuin com sua própria aldeia. cenas incríveis, mostra a força de vontade da mulher em zelar pela sua comunidade. cenas do cotidiano, desde cozinhar, manejo de algodão, ritual. há sempre uma consciência que da camera presente, inclusive há um diálogo entre os jovens diretores sobre as possibilidades que o cinema e o próprio filme podem trazer.

link para o filme, disponível no canal do instituto maracá: https://www.youtube.com/watch?v=D73UVXVHyFE

(16.07.2021)