acordei agora pouco e sabia que era por volta das 3h~4h da manhã. é a hora que normalmente acordo nas madrugadas. amo o silêncio que a noite produz na cidade. faz sentido trocar a noite pelo dia — num outro universo onde assim poderia ser. lí um pouco e me veio essa vontade de registrar.
ontem numa conversa tive um insight: estou em são paulo vivendo com olhar antropológico — sujeito participante ativo na sociedade, porém observador sem a vontade de modificar as condições existentes. me reativou a chama antropológica que ficou apagada nesses últimos anos domésticos.
é de manhã. eu preciso fazer coisas da vida. não posso começar a desenhar ou pintar.
há uma vontade de registrar. hoje não está sendo um dia fácil. quando assim entendi, soltei qualquer pingo de expectativa existente. recebi um sopro maternal para esvaziar a mente. funcionou. altos e baixos. há dias que são assim. está tudo bem.
sesc paulista – em busca de um lugar para estar, encontrei esse banquinho na biblioteca. tudo cheio. pensei que todas as pessoas também estavam fugindo do ar lá fora… o pior ar do mundo, que título!
ontem passei mal durante toda a noite. vômitos e incessantes idas ao banheiro. senti uma dor tremenda na cabeça e no corpo. foi muito intenso. no meio da madruga, num dos picos do desconforto, pensei: como ocupar o espaço, inclusive do próprio corpo? já que não está bom, o que fazer?
ainda estou com dor de cabeça e cansado, hoje fiquei na cama praticamente todo o dia.
fiz o exercício de gradientes da aula do renato rios. dá para perceber que fiz de um modo “meio rústico”, em cima da cama, sem uma superfície adquada… mas tava com uma vontade danada de começar a pintar… melhor feito que perfeito…
cheguei atrasado na aula… coisas de sp. perdi a parte de apresentação biográfica do pintor pisarro, mas pude acompanhar os slides e comentários. pissarro é um pintor que nunca tinha me chamado atenção… aquela coisa de não saber o que olhar. eu só conseguia ver “pintura naturalista do século XIX”. depois da aula consegui entender melhor suas qualidades — ponte entre impressionismo e neoimpressionismo, composições e o jogo de luz.
notas da aula:
o que vai além da percepção para sensação?
sensação em consciência
cezanne
fenomenologia
sensação — não sentimento
sensação — sensibilidade de construção pictórica
desapegar que estamos transmitindo
sensação visual do mundo – não é senitmento do mundo
sensação — traz no cérebro organização
no cérebro, entra um esqueleto, uma forma — cubismo
mondriaan — unidade autônoma cezanne
sensação pela cor
stanley whitney “pictoriza” a cor
forma pictural equilibrada
sensação X sensibilidade
quanto mais a gente fecha, mais a gente ganha
autonomia de sugerir melhor
“céu é separado da terra”
aluno: “é difícil imaginar isso” pp: “exatamente! é ver fazendo.”
faz toda a tela ao mesmo tempo
“socorro, não tô sentindo nada”
a gente gosta mais quando imagina que a pessoa faz também gosta
entrei no uber, o carro pifou. o motorista dizia: “isso tá errado, não era para não funcionar.”
“ninguém planeja para o carro quebrar” pensei.
cheguei na correria para a primeira aula (de seis) com o pintor renato reis. depois transcrevo algumas anotações em classe. gostei muito da forma como ele trata o diálogo sobre pintura.
achei que tinha perdido meu caderno de anotações. meu coração teve que praticar fortemente o desapego, além de usar o recurso de pensamentos como “se as anotações foram embora, fica a essência”. essas coisas que nós contamos a nós mesmos…
encontrei o caderninho e senti graça.
fui para o apto que ficarei temporariamente em sp. perfeito para esse momento.
depois fui ver minha filha. minha maior força e alegria compartilhada.
04.04.24
acordar com a bebê é festa total. energia ligada em alta vibração desde o despertar.
fomos passear no parque. cedinho tava fresco, mas tá quente em sp!
sobre a temperatura da cidade: até semana passada, estava com uma onda de frio absurda. eu não me atualizei nesses últimos dias e não sabia que o clima havia virado e que estava tão quente assim. tipo 25ºc. eu não usava bermuda há meses em floripa.
consegui voltar pro apto e desfazer minha mala.
a tarde, encontro uma pessoa para conversar sobre arte, desenho e a vida.
aula com o pintor paulo pasta… cheguei atrasado, pq a conversa tava boa. o artista comentado na aula foi o pisarro e depois três colegas apresentaram seus trabalhos. depois escreverei mais sobre essa aula.
na volta, caminhei com um colega de aula até o metro. tivemos uma conversa rápida e engraçada, a ponto dele perguntar se eu tinha algum diagnóstico mental. mas foi com todo respeito, do tipo “hm, você tem algum… sabe… algum grau de…” eu fui sincero e respondi que diagnosticado não fui, mas que já consultei psiquatra e psicólogo. isso faz um link com uma conversa que tive mais cedo com a mãe da minha filha: você é louco, ela me acusou novamente. respondi apenas com um “eu sei”, mas na minha cabeça passou “o passado me mostra que isso é uma conclusão óbvia” mas achei que era muito longa e teria que explicar… e pq eu desejo o bem estar das pessoas.
chegando em sp e indo direto da rodoviária para o espaço arco para a primeira aula de pintura com renato rios. a proposta do curso é pintura para iniciantes sem a necessidade de ficar preso ao desenho.
tivemos as seguintes propostas
gradiente azul: do pigmento ao branco do papel (como estava atrasado, fiz esse correndo)
cobrimos uma tela 20×30 com azul da prússia. colocamos todos os exemplos a frente e conversamos sobre as diferenças.
pegamos duas telas pré-pintadas com amarelo ocre e vermelho óxido e fizemos gradientes em azul.
em seguida, retirando a tinta, fizemos um ovo em uma tela. em outra, a proposta era fazer o maior ovo possível dentro do quadro.
o último exercício da aula era fazer o transfer de um desenho do matisse e depois pintá-lo. haviam três opções de desenho: rosto, cisne e uma planta. a ideia era usarmos um desenho pronto para focarmos apenas na pintura.
de início, a ideia era reforçar o desenho, empurrando a tinta dos espaços negativos do traço.
em seguida, pegamos a tinta pura para criar uma maior dinâmica visual de valores.
gostei muito de como o professor se refere a pintura. seguem as poucas anotações em aula:
através do copiar — se liberta
não é para ficar obcecado
óleo: transparência, velatura
a casinha da pintura: o lugar onde a gente não sabe
parar e olhar
não precisamos cumprir uma meta
seguindo os mestres, a gente se liberta de coisas nossas
descobrir pintando – a gennte é maior que nós mesmos
no intervalo da opacidade é aonde a graça está
a virtude da pintura é o erro.
suportar essa angústia é a tarefa do artista
não há sucesso na arte
o artista mais velho tem mais calo, sofre menos
picasso: as angústias de cezanne
merleau ponty – a dúvida de cézanne
qual o caminho aberto por cézanne?
cézanne:
monet é só olho — santo olho
deslocamento do real
primeiro olho para mim olhando para a montanha
não desenho e pinto – vai junto
eu sou a consciência da paisagem que se pensa em mim
acumulando / sobrepondo / construindo
hoje: muitos tipos de pintura
pp ensina uma maneira: construção a partir da experiência
é mais rico que a projeção intelectural
história galeano – ajudar a ver
livros ref:
david salle
art & fear
aquilo que não é dito ou mostrado
EVENTO da pintura
a arte é muda, mas a gente quer convesar
talento para ser melhor ao talento para fazer
ir além
o que importa é seguir adiante
não pare!
ir adiante!
talento é insistência
dúvida e contradição
arte e medo
ninguém quer um trabalho que ninguém liga
a arte vai nascer disso, desse lugar ambíguo, angustiante
nunca será igual: a intenção e o resultado
tem que ter olho para ver!
não desanimem
“artistas não saem do lugar enquanto a dor de trabalhar é menor que a dor de ficar parado”
“se tudo der certo, o MAM vai até você”
a pitura que a gente sonha é a melhor que a gente faz
trabalhar no negativo: meio cego – tateando
amílcar de castro: o principal problema da arte moderna é a liberdade
quanto mais trabaho, mais se chega a si — mais liberdade
CAVUCAR – em ressonância e reciprocidade com o mundo
PP: certa implicância com a cozinha da pintura
ir além da técnica
baravelli: se você não corre risco com medo de estragar o trabalho, já está estragado
“o tempo daquilo já foi…”
você não terá segurança para afirmar o trabalho.
quando tiver: honestidade, ética — há segurança
não é o medo externo que vai te dar conselho de qualidade
assepsia que a reprodução fotográfica traz
diferença entre o acabado e o inacabado
PULSANTE
o medo de fazer vai virando conteúdo
ENCARNAÇÃO da PINTURA
é tinta – é pincelada
o que aparece são as diferenças
o eterno conflito entre linha e cor
entre em acordo consigo
sem escrutínio severo em si mesmo
aprenda a gostar do seu ateliê
o que os artistas podem ativar/reverberar atualmente
é sempre uma referência
“eu também quero” — pintura
inteligência visual
hoje em dia… pintura virando documento — registro
pinturas nativas da nigéria
stanley whitney
sobre silva: “ele deu um jeito” – “tem o presente, tem a lógica do trabalhador”
recuperação de um mundo sem fissuras
só vamos saber quem a gente é PINTANDO
a gente se constrói reciprocamente com a pintura
descobri sobre o curso aleatoriamente no instagram. para ingressar, é pedido um portfolio com pinturas recentes. eu estava passando uma semana em sp na casa de uma amiga e tinha apenas três dias para enviar o pdf. comprei tinta óleo e fiz alguns experimentos em papel… deu certo!
recebi a aprovação na segunda-feira, já estava de volta em floripa. para não perder a primeira aula, fiz um bate volta em sp: quarta fiz o curso e quinta fiquei com minha filha.
participar do curso me anima mais ainda a estadia em sp no segundo semestre.
perderei as próximas duas aulas, enquanto ainda estou de mudança.
gostei muito do espaço do curso: projeto marieta. pinturas, bibliotecas, espaço livre!
a aula estava cheia, cerca de 50 pessoas.
como o grupo de estudos acontece faz tempo, a maioria das pessoas já se conheciam. de pessoas novas ao curso eram umas 5 e eu.
em relação aos colegas, grande parte são mulheres com mais experiência (+50).
me senti muito bem recebido. na minha experiência, pessoas que pintam são mais sociáveis e divertidas para o diálogo — principalmente num ateliê!
recebi email confirmando a minha participação no curso do pp. lá vou eu organizar as coisas para fazer um bate-volta em sp, com viagem de busão de 12h… pela pintura, vale.
última chegada na ilha, entrada nessa casa que sem dúvida é a mais intensa que já viví. ninho de sonhos, belezas e frustrações. chego bem pois desejo sair bem.